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Batalha da Grã-Bretanha: Junho de 1940 um inferno nos céus.

Batalha da Grã-Bretanha

Batalha da Inglaterra foi o primeiro grande combate aéreo e resultou em derrota inédita da Alemanha.

Em relação ao Exército comandado por Hitler, britânicos conseguiram manter superioridade aérea, não em número, mas em rapidez de ação no confronto de 1940.

A Batalha da Inglaterra é como se designa o conjunto de combates aéreos travados em céus britânicos sobre o Canal da Mancha, entre julho e outubro de 1940, quando a Alemanha tentou destruir a RAF (Royal Air Force) a fim de obter a superioridade aérea necessária para invadir Grã Bretanha com a “Operação Leão Marinho”.

Trata-se da primeira grande batalha inteiramente travada no ar. Foi a maior e mais concorrida das campanhas aéreas e prova inédita das estratégias de bombardeios que emergiram da Primeira Guerra Mundial. Foi também da primeira vez que a Alemanha era derrotada, vendo freadas suas ambições.

Planejamento da ofensiva

Nem Hitler nem Wehrmacht julgavam possível uma invasão anfíbia com êxito até que a RAF tivesse sido neutralizada. Os objetivos secundários eram destruir a produção de aviões e as infraestruturas terrestres com o intuito de obrigar o governo londrino a buscar uma solução negociada.

Após a rendição da França em 22 de junho de 1940, a Alemanha tinha o continente europeu sob controle. A única potência que resistia era o Reino Unido. Hitler planejava a vitória total no teatro europeu supondo que, após a rendição da França, o Reino Unido não tardaria a sucumbir. Confirmada a neutralidade dos Estados Unidos, as ilhas britânicas se encontravam isoladas do continente.

Esta visão de triunfo fez com que, durante o mês de junho, não se atacasse com a Luftwaffe, esperando que Londres se rendesse. A máquina de guerra alemã estava preparada para o assalto final, contudo Hitler queria emprestar-lhe dramaticidade e com pouco derramamento de sangue, evitando maiores riscos à Kriegsmarine, que sofrera várias perdas entre abril e junho na invasão da Noruega.

No entanto, os britânicos negaram-se a capitular. Dispunham ainda da marinha de guerra mais poderosa do mundo e isto foi fundamental para manter as linhas de abastecimento internamente e as provindas dos Estados Unidos e Canadá.

Ressalte-se que desde a rendição da França, em junho de 1940, até a invasão da União Soviética, em junho de 1941, a Grã Bretanha permaneceu como a única potência em luta contra a Alemanha nazista.

Diante da férrea postura de Winston Churchill, Hitler começou a planejar a “Operação Leão Marinho”. Hermann Göring, comandante da Luftwaffe, exultava, sua aviação só havia colhido até então vitórias esmagadoras sem sofrer praticamente baixas, prometendo a Hitler acabar com a aviação inglesa em poucos dias.

A estratégia se baseava na completa aniquilação da RAF o que permitiria à Wehmacht um desembarque sem maiores contratempos nas costas britânicas. Para tanto, Göring contava com a Luftflotte 5, com base na Noruega; a Luftflotte 2, na Holanda; a Luftflotte 3, no oeste do rio Sena, num total de 3600 aviões contra apenas 871 da RAF.

Início da operação

Confiando na estratégia de Göring, Hitler ordenou que seus generais preparassem a invasão para início de julho. Os chefes do Exército e da marinha exigiram que a Luftwaffe atacasse de modo implacável, durante três dias, a fim de conseguir uma superioridade numérica total no sudeste da Inglaterra.

Alcançado o objetivo, a unidade de paraquedistas de Kurt Student cairia sobre Dover para estabelecer uma gigantesca cabeça de ponte, A Marinha de Guerra passaria então a transportar as forças terrestres, contando que já não haveria ameaça britânica desde o ar.

No início de julho, a Luftwaffe se dedicou a atacar comboios navais britânicos sobre o Canal da Mancha, testando o estado das defesas britânicas e dando mais experiência aos pilotos germânicos contra um inimigo de notável força. Os objetivos dos bombardeios naquela primeira fase eram as defesas costeiras, as instalações industriais próximas a Londres, os aeródromos militares e a rede de radares.

No entanto, os britânicos conseguiram manter a superioridade aérea, não em número, mas em rapidez de ação. Desenvolvido anos antes pelo físico Robert Watson-Watt, o radar proporcionou uma considerável vantagem tática para a RAF, pois detectava a aviação inimiga, permitindo coordenar e enviar os caças Spitfire no momento de combater as incursões inimigas.

À parte, a produção maciça do famoso caça Supermarine Spitfire trouxe esperanças à aviação inglesa. O aparelho, bem armado, possuía grande capacidade de manobra. O Spitfire rapidamente mostrou-se como o terror para os pilotos da Luftwaffe.

Ante aos ataques alemães, os britânicos cancelaram sua navegação pelo Canal da Mancha. Por sua vez, os pilotos ingleses evitavam o duelo no ar, devido à superioridade numérica alemã e sabedores das dificuldades da Luftwaffe de manter combates prolongados por suas limitações de combustível. Göring decidiu mudar de tática e passou a combater sobre solo inglês.

Os aviões ingleses eram mais fáceis de destruir se os impactassem antes de levantar voo. Entretanto, os britânicos utilizaram um sistema de camuflagem dificultando a percepção dos aparelhos no ar. Por outro lado, posicionaram os aparelhos por detrás de muros de cimento, resguardando-os dos impactos das bombas inimigas. Outra tática britânica de êxito consistia em criar hangares falsos, camuflando os verdadeiros.

“Dia da Águia” e a vingança

A nova operação chamada por Göring como o “Dia da Águia” teve início em 15 de agosto. A Luftwaffe contava com mais de 1000 bombardeiros e cerca de 700 caças. Calcula-se que realizaram 2119 ações naquele dia. Quarenta Messershmidts foram derrubados, porém as consequências do bombardeio foram devastadoras para a RAF.

A operação Dia da Águia prosseguia com excelentes resultados, quando, em 24 de agosto, o porto de Londres foi bombardeado, segundo os alemães, por erro. Era a primeira vez nesta guerra que se atacava a população civil. Apesar das desculpas do Reich, Churchill valeu-se do episódio, preparando um ataque aéreo sobre Berlim.

O bombardeio sobre a capital germânica foi, sobretudo, um golpe de efeito para elevar o moral britânico, já que a RAF ainda não estava em condições de levar a cabo um ataque de grande envergadura sobre solo alemão.

A data do bombardeio sobre Berlim foi escolhida a dedo para coincidir com a entrevista do ministro do Exterior do Reich, Joachim von Ribbentrop com seu homólogo soviético, Viacheslav Molotov para demonstrar à União Soviética o iminente triunfo alemão. A entrevista teve de ser interrompida para que os assistentes pudessem baixar a um refúgio antiaéreo porque Berlim estava sendo bombardeada pela RAF. O episódio fez com que Molotov não desse crédito às palavras de Ribbentrop: “Se a vitória é certa, por que estamos, então, neste refúgio e quem está lançando as bombas ?”.

Embora os danos do bombardeio britânico sobre Berlim tivessem sido ínfimos, Churchill conseguiu o que buscava. Hitler, ferido em seu orgulho, ordenou à Luftwaffe que abandonasse a estratégia de bombardeios em aeródromos e se concentrasse nas cidades, principalmente Londres.

Teve início um bombardeio sustentado sobre as cidades britânicas, levado a efeito entre 7 de setembro de 1940 a 16 de maio de 1941. Até novembro, Londres foi bombardeada diariamente. Houve ataques também contra Birmingham e Bristol, bem como cidades reconhecidas por sua arquitetura, como Exeter e Bath. Ainda que a mudança de tática implicasse quase a destruição de Londres, Churchill mostrou-se disposto a afrontar o sacrifício em troca do tempo necessário para a RAF rearmar-se. O objetivo foi alcançado: os britânicos superaram os alemães na fabricação de aviões. O crítico era que não dispunham de tantos pilotos.

Baixas e derrota

As baixas alemãs não eram pesadas para a Luftwaffe, enquanto as mortes britânicas eram significarivas para a RAF. Contudo, a sensação era que a Alemanha estava perdendo a batalha por não conseguir destruir a força aérea inimiga como condição essencial para dar início à “Operação Leão Marinho”.

De julho até outubro de 1940, 1.733 aviões foram abatidos, segundo cifras germânicas, e 2.698, de acordo com fontes britânicas. Impressionado com as baixas, Hitler decidiu em novembro cancelar temporariamente a “Operação Leão Marinho” e ordenou começar um novo tipo de incursão aérea: o bombardeio indiscriminado, aproveitando a escuridão da noite para evitar ao máximo o combate com a aviação inglesa e seus sistemas antiaéreos.

Os “raids” aéreos entre novembro de 1940 e fevereiro de 1941 alcançaram Coventry, Birmingham, Liverpool, Manchester, Sheffield, Hull e Bristol, chegando a bombardear Belfast, Irlanda, em abril de 1941. Londres seguiu sendo atacada, com menos freqüência, porém com mais potência. De certo modo, a tática alemã foi a forma inconfessa de aceitar a vitória do inimigo e a primeira grande derrota da Luftwaffe.

Em maio de 1941 cessaram os ataques em grande escala da Luftwaffe sobre o Reino Unido. Londres não só deixou de capitular ante Berlim, como aumentou com o objetivo de derrotar a Alemanha nazista. Como a Luftwaffe não cumprira sua principal missão, a Kriegsmarine julgou que o risco de levar a cabo a “Operação Leão Marinho” era elevadíssimo.

Os alemães haviam perdido definitivamente a Batalha aérea da Inglaterra, o que traria importantes consequências. Hitler, depois de atacar e derrotar o Reino da Iugoslávia e o Reino da Grécia em abril de 1941, ordenou deslocar a maioria dos caças e bombardeios para a Europa Oriental a fim de apoiar o ataque da Wehrmacht contra a União Soviética a partir de 22 de junho, na “Operação Barbarossa”.

 

 

 

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